Tem que decidir se o seu filho fica mais um ano no jardim-de-infância ou se vai para o 1º ciclo?
Aos seis anos de idade, estipula a lei que se matriculem as crianças no 1º ano, do 1ºciclo do ensino básico (não havendo motivo para proceder ao adiamento da matricula, por exemplo no caso em exista uma perturbação do desenvolvimento ou outra condição que assim o dite).
E como tal, as matrículas para as crianças que, no próximo ano letivo irão ingressar no 1º ano do 1º ciclo de estudos e que completem então, os 6 anos de idade até dia 15 de setembro, já se realizaram. E as outras crianças que completam 6 anos depois de 15 de setembro?
No caso das crianças que completem os seis anos de idade entre 16 de setembro e 31 de dezembro (as chamadas crianças “condicionais”), diz a lei que “ (…) podem ingressar no 1.º ciclo do ensino básico se tal for requerido pelo encarregado de educação, dependendo a sua aceitação definitiva, da existência de vaga nas turmas já constituídas, depois de aplicadas as prioridades ai definidas (…)”.
As crianças que completem, então os 6 anos de idade, após 15 de setembro, estão assim, dependentes da decisão dos pais/encarregados de educação quanto ao ingresso no 1º ciclo do ensino básico, sendo esta condicionada (e dai o termo “condicionais”) logo aqui, em primeira linha à sua decisão, e também, sujeita à existência de vagas no agrupamento de escolas pretendido. Então, a questão quê se impõe é – Como decidir? Com base em que critérios? Não sabe o que fazer, que opção tomar?? Não há uma resposta certa e/ou universal… Depende! E depende de que fatores? Depende de quê, afinal?!
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Do perfil de competências e de dificuldades emergente ao identificar as áreas fortes e as áreas menos fortes, em aquisição e/ou desenvolvimento; por exemplo, a aquisição e desenvolvimento da linguagem, da consciência fonológica – sensibilidade que apresenta para os sons, silabas, palavras, compreender que as palavras rimam entre si produzindo o mesmo som, eliminar e acrescentar silabas nas palavras – competências importantes para a aprendizagem da leitura e da escrita que se revelam indicadores importantes na aquisição com sucesso para o princípio alfabético; dificuldades na linguagem podem traduzir dificuldades na produção dos fonemas e potencialmente na tradução em grafemas (letras); conceito de número – princípio da correspondência termo a termo (um rótulo/uma imagem corresponde a um objeto/quantidade) – quando conta objetos tem que contar efetivamente (não é “contar de cor”, mas cada número corresponde a um objeto e traduz uma quantidade). Depende da coordenação motora, da motricidade fina que será importante na aquisição da escrita (segurar o lápis de forma correta – a letra manuscrita é cansativa); a atenção e foco com que escuta uma história e a reproduz, reconta e ilustra o pormenor da história, o raciocínio que apresenta; a curiosidade pelas novas aprendizagens, a criatividade e investigação.
São aspetos que, do ponto de vista cognitivo, são relevantes e potencialmente preditores do sucesso escolar e das dificuldades de aprendizagem, mas cuja decisão aqui não se esgota.
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Depende sobretudo do desenvolvimento socio-emocional da criança e das experiências de aprendizagem que lhe foram proporcionadas até então. A aceitação das rotinas e das regras, da disciplina em sala de aula; o tempo de permanência em tarefa/atividade, o tempo que tem de estar sentado em sala, em tarefas que assim o exijam. A forma como gere e resolve um conflito com o amigo, como aceita a frustração e a transforma em competência; a forma como comunica com o colega, com o adulto sobre as suas necessidades, experiências e aprendizagens; por exemplo, o que traz a criança para casa ao fim do dia de jardim? Como relata as atividades que realizou? Qual o interesse sobre as mesmas? Como fica a criança no jardim quando o deixa, de manhã?
A dimensão emocional é fundamental nesta decisão, assim nos mostram as neurociências.
Os pais devem tomar uma decisão que reúna várias opiniões, uma decisão participada, privilegiando e ouvindo quem acompanha o dia-a-dia da criança, quem num ambiente mais formal observa o seu comportamento, as reações emocionais, a interação com os pares, e melhor, pode avaliar. E quem o pode fazer, então?
Neste ponto, é fundamental a opinião da educadora (basta pensar no número de horas que a criança tem com a criança) na medida que terá uma avaliação mais aproximada e exata das competências da criança, em contexto mais formal de aprendizagem, ou seja será capaz de identificar as dificuldades e barreiras da criança, que ainda não foram ultrapassadas e podem comprometer o sucesso na transição para o 1º ciclo. Cada criança é única no seu ritmo de aprendizagem.
Pode ser importante também consultar um técnico especializado, um psicólogo educacional, que procederá a uma avaliação do desenvolvimento da criança, mais formal, auxiliando e orientando nesta tomada de decisão. Mesmo o pediatra poderá ter uma palavra a dizer. E o vosso conhecimento como pais, do que é a criança num contexto mais informal, no seio familiar também conta! Ouvidas todas partes, caberá sempre aos pais a tomada de decisão. Esta tomada de decisão deve ser tranquila, suportada e segura. A decisão dependerá assim, das características individuais de cada criança, da sua realidade e experiências desenvolvimentais.
Esta decisão não se resume assim, a um número, a uma idade cronológica, mas resultará da ponderação de um conjunto de fatores e elementos oriundos de contributos dos vários intervenientes e agentes educativos no processo educativo da criança. E assim, a escola aos 5 NEM SEMPRE NEM NUNCA!!!
Ficar mais um ano em contexto de educação pré-escolar pode ser uma oportunidade que permita à criança não experienciar o insucesso (há sempre mais esforço das crianças mais novas) e o que isso acarreta em termos emocionais, sobretudo quando não estão competentes deste ponto de vista (socio-emocional). Os estudos mostram que, do ponto de vista motivacional, a criança que se sente competente tem maior probabilidade de continuar a investir mais tempo nas atividades escolares e desenvolver uma autoestima positiva. Ser mais velho está associado ao maior prestígio social com consequências positivas para relações sociais com os colegas. As crianças mais velhas têm esta vantagem desenvolvimental porque somam mais tempo no qual adquiriram competências, por norma.
A infância é uma etapa muito importante do desenvolvimento da criança e do ser adulto que há-se ser. Não há necessidade de acelerar este processo! O tempo do brincar é demasiado curto, mas essencial nas aprendizagens que encerra!
Psicóloga educacional,
Carla Moreira.