O Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor foi instituído em 1995 por decisão da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a 23 de abril, com o objetivo de promover a reflexão sobre a leitura, a indústria de livros e os direitos autorais.
Este dia foi comemorado pela primeira vez em 1926, Catalunha em Espanha, em comemoração do nascimento do escritor espanhol Miguel de Cervantes. Mais tarde foi alterado para 23 de abril, data da morte do referido escritor (Cervantes) e pensa-se que este dia (23 de abril) possa estar associado a grandes escritores, como, por exemplo, William Shakespeare.
Esta data tem como objetivo principal assinalar a importância e a utilidade dos livros e, ainda, promover hábitos de leitura e fomentar o prazer da leitura. E este é o motivo para uma breve conversa com a Dra. Manuela Mota Ribeiro.
– Com base nesta ideia, eu pergunto-lhe, desde logo, então qual a importância da leitura?
De um modo ou de outro, todos nós somos tocados pela leitura… É claro que eu tenho consciência de que a sua importância é muito mais enaltecida ou valorizada pelas pessoas que já experienciaram e saborearam os benefícios desta maravilha que é LER ou OUVIR LER algo que nos toca… algo que nos traz alegria, ânimo, motivação… que nos surpreende ou aquece o coração; algo que nos faz pensar de um modo novo, fresco, diferente… que nos faz questionar, ponderar, refletir… ou, simplesmente, nos faz embarcar numa história e viajar sem sair do lugar! É enorme a importância da leitura. E nem estou a falar de benefícios específicos, tais como: o aumento do vocabulário, o despertar da inteligência, a promoção da empatia…
– Como podemos fomentar hábitos de leitura, numa sociedade marcadamente tecnológica, digital? Onde ficam os livros? Os estudos mostram que lemos pouco…
Felizmente, no mundo inteiro, existem imensos apaixonados pela leitura, que não só compram livros para si próprios, como fomentam o seu uso, oferecendo-os a amigos e familiares. E mesmo que numa determinada fase da vida não encontrem tempo para ler, sabem que, mais cedo ou mais tarde, irão voltar a fazê-lo. O mais importante é que as pessoas, desde cedo, possam experienciar a maravilha que é LER, pois quem passa por essa experiência facilmente se transforma num leitor… Daí a importância de se fomentarem hábitos de leitura. Aqui aproveitava para deixar um apontamento… é importante ter em conta o gosto pessoal de cada um. Por exemplo, nas minhas idas às escolas, eu fico muito contente quando os pais permitem à criança escolher o livro que ela deseja ler. Nota-se bem quando isso acontece. O entusiasmo pela leitura é muito maior!
– Podemos identificar a necessidade de educar para a leitura?
Sim, pois existem tantas distrações na vida das pessoas (sobretudo nesta fase mais tecnológica, como referiu), que é fácil passar ao lado dos livros e nem sequer ficar a conhecer o seu enorme poder. Se os livros não forem dados a conhecer, a saborear… há muita riqueza que se vai perder… Por isso fico tão feliz quando verifico, no dia a dia (ainda esta semana comentava isso com várias educadoras e professoras), que as crianças continuam apaixonadas por livros e por histórias. E que há que continuar a incentivá-las, para que possam descobrir este mundo tão maravilhoso e tão mágico! Pois só o conhece quem o experiencia…
– Quanto à função pedagógica dos livros…
Os livros podem ser – e são, muitas vezes – usados com uma função pedagógica. Mesmo que o autor não tenha tido essa intenção ao escrever, é natural que haja quem os use com a função de educar e ensinar. Sobretudo nas áreas da educação e da saúde. E porquê? Porque os livros possuem mensagens com esse poder, que passam diretamente para o leitor. Ora, se uma simples história, uma partilha, uma experiência de vida… só por si, já nos podem trazer tantos ensinamentos, faz todo o sentido que os livros e as suas mensagens sejam aproveitados no mesmo sentido…
– Os seus livros contam histórias? E estas histórias podem ser instrumentos/recursos terapêuticos de excelência? Como?
Os meus livros contam histórias, sim. E, geralmente, há sempre uma história por detrás de cada história! Eu acredito que, tal como as histórias podem ser usadas com fins pedagógicos, também podem ser usadas com fins terapêuticos. Pessoalmente, desde cedo comecei a prescrever livros a alguns utentes… E os resultados foram excelentes!
Eu gosto de olhar para o ser humano nas suas várias dimensões: a parte mental, que organiza os nossos pensamentos e armazena conhecimentos… a parte emocional, que regula as nossas emoções… a parte energética, que gere a nossa energia… a espiritual, mais associada às nossas crenças em algo maior e à nossa fé… e a parte física, o corpo em si, tantas vezes afetado por todas as outras!… Ora, se é o equilíbrio entre estas várias vertentes que ajuda a pessoa a manter-se saudável, qualquer recurso que lhe traga bem-estar e harmonia… ou que a ajude a ganhar consciência daquilo que, à partida, lhe trará esse bem-estar, pode ser um instrumento valioso para a sua saúde. Por isso, eu acredito que as histórias podem ser instrumentos terapêuticos muito úteis. Porque, no final, é o equilíbrio entre as várias dimensões do ser humano que traz saúde à pessoa. Pensando agora nos mais jovens, os livros podem ser recursos terapêuticos não só pelos seus conteúdos, pelas mensagens passadas, pelas aprendizagens que são feitas, pelo estímulo à adoção de comportamentos saudáveis, mas também, por exemplo, no caso das crianças, pela ligação que é estabelecida entre elas e aqueles que lhes leem histórias.
– A sua formação de base, medicina, foi o ponto de partida? As suas histórias trabalham temáticas que têm uma função pedagógica?
A minha paixão pela escrita e pela leitura já vem de muito novinha… Assim como a minha vontade de ajudar pessoas a terem uma vida mais feliz e com mais saúde. O curso de medicina surgiu nesse contexto. Daí ter havido alturas da minha carreira literária em que eu escrevi histórias que pudessem divertir as crianças (rir também faz bem à saúde!) e que pudessem ser usadas com fins pedagógicos. Ainda hoje as uso nas escolas. Desde o tema da higiene à boa educação ou da segurança rodoviária à alimentação, todos têm sido úteis.
– Os livros têm poder/magia…
Há livros que, de facto, são capazes de fazer autênticas magias… Eu sou uma testemunha desse enorme poder transformador. Por isso continuo a ler e a escrever!