1. Já acompanhaste a nível escolar alunos com diagnóstico de dislexia?
R: Sim, durante a minha prática de docente, já passaram por mim 5 casos de alunos com o diagnóstico de dislexia.
2. Quais é que foram os primeiros sinais e dificuldades que identificaste que te fizeram procurar ajuda?
R: Todos os alunos com esse diagnóstico despertam-me uma atenção adicional, porque ao nível da leitura, tanto de palavras isoladas, como de textos, as competências estão extremamente aquém daquilo que é esperado. Ao nível do vocabulário expressivo também é, por si só, bastante reduzido e pobre. Ao nível da construção frásica, apresentam muitos erros gramaticais e na sequencialização da informação do texto. Portanto, os textos são muito confusos na forma como expõe as ideias e com muito pouca clareza. Concretizam muitos erros ortográficos, nomeadamente, omissões, trocas fonológicas. Ao nível da linguagem, também, em alguns casos, são evidentes as dificuldades. Com a introdução dos fonemas no 1º ano estás dificuldades foram particularmente notórias, sendo que a medida que os anos iam passando os alunos vão evidenciando um desfasamento em relação ao grupo-turma. Numa primeira fase, também era percetível a existência de “picos de aprendizagem”, ou seja, parecia que aprendia no dia a seguir as dificuldades voltavam. Num dos alunos, o facto de o irmão ter sido diagnosticado com dislexia fez com que percebesse que haveria aqui uma probabilidade hereditária e genética de o aluno, eventualmente, ter a propensão para o mesmo diagnóstico. Pelo que automaticamente uma pessoa olha logo com outros olhos de atenção para o aluno.
3. A quem recorreste para te apoiar neste processo de avaliação da aluna?
R: Numa primeira fase, fui tirando algumas dúvidas e discutia com as colegas, porque temos por hábito trabalhar em conjunto sobre o que poderia fazer para combater as dificuldades. Para além disso, falava também com a professora de educação especial para discutir estratégias que pudessem realmente ajudar e apoiar os alunos. Depois de percebermos por alguns indícios que as coisas não estavam a funcionar, acabei por identificar a aluna para a EMAEI e o SPO da escola para uma avaliação mais específica de despiste da dislexia recolhendo evidencias que justificavam as reais dificuldades da aluna.
4. Quais os principais obstáculos que consideras ter existido no percurso escolar da aluna?
R: Embora existam evoluções no processo de fluência leitora, o processo de descodificação e de compreensão de textos está aquém do que é esperado para o ano escolar. As evoluções nestes domínios são sempre mais demorosas o que acabava por condicionar a aprendizagem noutras áreas. Penso que a ansiedade acaba por ser notória nestes alunos, a medida que vão transitando de ano, porque sabem que não conseguem acompanhar as exigências do grupo-turma. O que acaba por os deixar mais frustrados no dia-à-dia no contacto com as aprendizagens. Uma das coisas que tenho identificado, recentemente, é o falar brasileiro no discurso o que acaba por dificultar também as melhorias no processo.
5. Para terminar, o que dirias a um professor/a que acaba de perceber que tem um aluno com o diagnóstico de dislexia e que estratégias devem ser utilizadas para apoiar o aluno?
R: Considero que um professor deve ser visto como um facilitador da aprendizagem e, como tal, deve adaptar o máximo possível os exercícios à necessidade do aluno e em que nível ele se encontra. Portanto, para mim, faz sentido recorrer a diferentes atividades que permitam chegar ao aluno. O importante é de facto conhecer o aluno e perceber como podemos apoiá-lo. Nestes casos, o que tenho sentido que funciona, é o sublinhado das frases com diferentes cores, vermelho, azul, amarelo e preto, ajuda a segmentar as palavras. O treino sistemático da leitura, da silaba e da escrita para que seja memorizado pelo aluno também facilita. Neste sentido, acho que o professor deve disponibilizar ao aluno todas as ferramentas necessárias para que ele consiga atingir os objetivos curriculares, mas principalmente que, nessas atividades, o aluno também se consiga sentir motivado para aprender e melhorar. E se conseguirmos criar essa empatia de professor-aluno será muito positivo e uma ferramenta adicional. O procurar ajuda técnica especializada, na escola ou até em formato particular, com a autorização dos encarregados de educação, deve ser o mais cedo possível. No entanto, o importante é olharmos para cada caso e perceber que os alunos precisam do nosso apoio e, em alguns casos, precisam de uma ajuda mais especializada.