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1. P: Quando é que foste diagnosticada com Dislexia?
R: Foi no 4º ano.

2. P: Se tu pudesses caracterizar o que é a dislexia o que dirias, isto é, o que é para ti a dislexia dentro daquilo que tu tens aprendido ao longo destes anos?
R: Antes preocupava-me com ter dislexia. Agora não, neste momento, é uma coisa normal para mim. Mas, antes aquilo que eu sentia é que dava muitos erros na leitura e na escrita. E agora é como se não tivesse nada. Não sinto dificuldades nenhumas a ler. Algumas vezes ainda sinto dificuldades a escrever. Mas nada como antes.

3. P: Mas tu lembras-te como é que foram os teus primeiros anos que memórias é que te marcam?
R: Foi muito complicado. Eu tinha vergonha quando lia e tinha medo de errar. E estava sempre a dizer que não ia conseguir. No 1º ano não sentia tanto as dificuldades de não conseguir acompanhar a turma. Mas no 4º ano sim, as coisas estavam-se a desenvolver muito rápido e eu sentia que não conseguia acompanhar o grupo-turma. Por exemplo, os meus colegas conseguiam fazer composições e eu ficava parada a pensar como se escrevia a palavra e, por isso demorava muito mais tempo.

4. P: De eu forma é que as dificuldades te faziam sentir?
R: Sentia-me mal, porque via toda a gente a conseguir e eu não. Duvidava de mim. Via toda a gente a escrever rápido e eu não sempre a tentar lembrar-me de como se escreviam as palavras. Pensava que eu não era capaz de acompanhar os colegas e de ler.

5. P: O que foi mais difícil nessa altura para ti?
R: Foi difícil lidar com todos os meus sentimentos e emoções negativas. Sentia-me sempre triste por ter de ir para a escola e não acompanhar os colegas nas aulas.

6. P: E os professores como lidavam contigo?
R: Os professores não me diziam nada. Voltavam era a repetir as frases, se fosse preciso, para eu escrever, como eu demorava mais tempo.

7. P: De que forma é que lidaste com este diagnóstico ao longo da tua vida escolar?
R: Antes metia-me confusão e foi muito difícil. No 5º e 6º ano demorava muito tempo a fazer os testes e a ler. Estava sempre a tentar lembrar-me da forma como se escreviam as palavras. Foi a partir do 10º ano que tudo ficou mais fácil, porque foi por essa altura que comecei a ganhar mais confiança em mim e consegui começar a ler melhor e a escrever melhor. Para trás foi um bocado complicado, porque lia as frases ao contrário. Por exemplo, quando estava escrito a palavra “simultaneamente” eu lia outra coisa que não tinha nada haver. Foi muito difícil habituar-me. Agora é totalmente diferente. Agora sinto que sou capaz de ler e escrever normalmente.

8. P: O que dirias a uma criança que tenha sido diagnosticada com dislexia?
R: Eu quando soube que tinha dislexia foi muito difícil. Lembro-me que chorava todos os dias que ia para a escola e sabia que tinha de fazer composições. Acho que não devia ter sentido isso, deveria ter visto a dificuldade como algo normal. Aconselhava a quem tem dislexia, em pequenino, a fazer a sua vida normal, para não pensar muito nisso…se se sentir bem, que fale com a professora, que conte aos amigos. Mas acho que o que é mais importante é não se deixarem abalar emocionalmente.

9. P: Qual a estratégia que foi mais eficaz contigo?
R: Ler os textos que vão ser lidos antes de ir para a escola, treinar antes em casa…escrever as palavras difíceis para as ir memorizando e as puderem utilizar nas composições, nos testes…

10. P: O que dirias a um professor de uma criança com dislexia?
R: Eu em pequenina não gostava que os professores me expusessem à frente da turma…é importante que os professores conheçam o que é que faz aquele aluno sentir-se bem…quando eu era pequenina preferia que a professora me pusesse a ler só para ela e não em frente à turma. Quando ganhei confiança, isso deixou de ser um problema e até gostava de ler em voz alta em frente à turma para mostrar que também estava a conseguir acompanhar.

11. Para terminar, no livro que se chama “O Dom da Dislexia” fala das áreas fortes/potencialidades acima da média, em alguns casos, dos alunos com este diagnóstico. Qual é que achas que é para ti a área que consideras ter competências acima da média?
R: O desenhar e a pintar, as artes no fundo.

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