“Falar duas línguas atrasa a fala das crianças!”
Resposta: MENTIRA
Ser bilingue significa que a criança consegue falar mais do que uma língua, podendo a aprendizagem ocorrer de forma simultânea ou sequencial. Para que a criança aprenda uma língua basta que a mesma esteja exposta a ela, isto é, que ouça as outras pessoas a falar e que estas falem com ela. Se uma criança estiver exposta a mais que uma língua no seu dia-a-dia, de uma forma natural irá ser capaz de as compreender e expressar-se em ambas.
O facto de a criança estar exposta a mais do que uma língua no seu contexto familiar não causa, por si só, um atraso no desenvolvimento da linguagem. No entanto, é natural que a criança possa demorar um pouco mais a processar e integrar os dois códigos linguísticos, podendo começar a falar mais tarde e ter um vocabulário menos rico em cada uma das línguas numa fase inicial. Contudo, consegue desenvolver competências linguísticas dentro dos padrões esperados para a idade, sendo importante que exista um equilíbrio favorável na imersão linguística.
A investigação nesta área revela que há benefícios no domínio de duas línguas, nomeadamente no desenvolvimento de competências cognitivas, resolução de problemas complexos, atenção, memória e pensamento criativo.
“A minha mãe precisa de Terapia da Fala? Não me parece, isso é para as crianças!”
Resposta: MENTIRA
O Terapeuta da Fala trabalha muito mais além da articulação verbal (fala) e não se destina apenas à intervenção com crianças.
É o profissional responsável pela avaliação, diagnóstico, prevenção e intervenção em alterações relacionadas com a alimentação, motricidade orofacial, comunicação, interação, linguagem, voz e fluência.
Atua com a população em qualquer etapa da vida, desde recém-nascidos, em unidades de neonatologia, à terceira idade em lar de idosos.
O Terapeuta da Fala pode ajudar em:
• Alterações de interação e comunicação;
• Perturbações da linguagem ao nível da expressão e compreensão de mensagens verbais;
• Dificuldades da leitura e da escrita;
• Alterações da articulação dos sons da fala;
• Perturbações da voz;
• Alterações da fluência do discurso;
• Dificuldades na alimentação (mastigação, deglutição e sensibilidade oral);
• Alteração da estrutura ou função da musculatura orofacial (como parésia facial e questões estéticas);
• Perturbações de processamento auditivo central;
“Estás sempre com a boca aberta, respira pelo nariz! Deve ser por isso que não se percebe bem o que dizes!”
Resposta: VERDADE
A respiração oral tem um impacto significativo na fala, tal como nas restantes funções orais e não só.
A forma fisiológica e mais correta de respirar é pelo nariz, desta forma é possível a filtragem, purificação e aquecimento do ar através do nariz, evitando eventuais infeções do sistema respiratório. Por outro lado, na respiração pelo nariz, a mandíbula deve estar elevada e a língua encostada ao céu-da-boca, estimulando o crescimento e o desenvolvimento adequado do palato e da maxila superior. Um normal desenvolvimento das estruturas orais favorece um adequado funcionamento das funções orais, sejam elas falar, mastigar, engolir.
No entanto, nem sempre a respiração é assim e as causas podem ser variadas, nomeadamente rinites, hipertrofia das amígdalas e/ou adenoides, flacidez dos músculos da face, desvio do septo nasal.
Quando a respiração é predominantemente oral, os músculos da face ficam enfraquecidos, a língua passa a estar no chão da boca, tornando-se flácida, tal como a musculatura dos lábios e das bochechas, impedindo um crescimento facial adequado e harmonioso. As consequentes alterações estruturais, como palato alto e estreito, má oclusão dentária, assimetria facial, lábio superior curto, narinas estreitas, levam a alterações funcionais como na mastigação e deglutição dos alimentos, que se tornam menos eficientes e compensatórias, bem como na fala, com a anteriorizarão e distorção de sons. Por outro lado, devido à posição baixa da mandíbula verificam-se compensações da coluna cervical, cintura pélvica, joelhos e pés, na procura de um equilíbrio corporal.
Há ainda a acrescentar que um respirador oral é mais vulnerável a infeções de ouvidos, o que pode interferir na capacidade de perceção dos sons da fala durante o desenvolvimento e levar alterações no desenvolvimento não apenas da fala, mas também da linguagem.
Entre os vários profissionais, o Terapeuta da Fala é um dos que pode ajudar nestes casos.
“É importante falar para os bebés para eles aprenderem a falar!”
Resposta: VERDADE
Em circunstâncias normais, as crianças nascem geneticamente equipadas para ouvir e produzir a fala humana, o que não quer dizer que nasça a falar. A exposição a estímulos sonoros promove o desenvolvimento das competências auditivas, contribuindo para que a criança desenvolva, entre outros, processos de maturação cognitiva e linguística.
Falhas no acesso à informação auditiva poderão levar a alterações no desenvolvimento da linguagem da criança, sobretudo se surgir em idade precoce. Deste modo, é extremamente importante perceber se a acuidade auditiva das crianças é adequada e estar alerta para situações de infeções auditivas (otites), já que são muitas vezes a causa de alterações no desenvolvimento da linguagem.
“Às vezes não faz o que pedimos, temos de repetir muitas vezes! Deve estar a ouvir mal!”
Resposta: PODE SER VERDADE OU MENTIRA
A compreensão de uma mensagem auditiva pode depender de vários fatores, nomeadamente por uma questão de linguagem, por dificuldades de compreensão da informação linguística, mas também poderá dever-se a uma alteração auditiva.
“Ouvir um som significa analisar um evento fisiológico distribuído no tempo e, para que esse processo ocorra na sua perfeição, precisamos de ter uma audição capaz de detetar, discriminar, reconhecer e compreender toda a informação auditiva” (Erber, 1982). Tal significa que não basta que o nosso ouvido consiga captar o som, é preciso que o nosso cérebro seja capaz de processar toda a informação auditiva para que sejamos capazes de compreender a mensagem. Aos processos cognitivos envolvidos na análise do sinal acústico para a sua descodificação chamamos de processamento auditivo central.
Uma alteração de processamento auditivo central pode ocorrer em casos em que existem limiares normais de audição, as dificuldades verificadas não se centram na capacidade de “ouvir”, mas sim na capacidade de “compreender” a informação auditiva. Isto deve-se ao facto de existirem alterações nas vias que conduzem o som até ao cérebro. Neste sentido, se se tiver em consideração que a função do cérebro é dar sentido aos sons recebidos pelo ouvido, se ele receber uma mensagem auditiva imprecisa, tornar-se-á incapaz de o interpretar e, assim, de responder de forma adequada.
Os sinais e sintomas de uma alteração de processamento auditivo podem variar e ter diferentes formas de manifestação de acordo com a idade e gravidade da perturbação, sendo os mais comuns nas crianças:
• Parecer não ouvir/entender bem, diz muitas vezes “Ah? O quê?” e/ou pede para repetirem a informação.
• Dificuldades em compreender o que é dito em ambientes ruidosos ou em grande grupo (várias pessoas a falarem ao mesmo tempo).
• Manifestar incómodo com sons intensos (foguetes, aspirador, música alta..).
• Dificuldades em localizar a origem do som.
• Tendência para colocar o volume da televisão muito alto.
• Atraso na aquisição da fala, sobretudo no “r” (brando) e “l”.
• Dificuldades em memorizar recados ou informações mais longas e em seguir instruções ou uma sequência de tarefas.
• Dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento.
• Distração e desatenção, parece que está “no mundo da lua”
• Troca de letras na escrita e leitura pouco fluente.
• Dificuldades com músicas e rimas.
Após uma avaliação especifica e diagnóstico, a intervenção passa pelo treino auditivo por um profissional, como o Terapeuta da Fala, com formação específica na área.